Aceitar que você não é uma startup não é nenhum problema. Pode ser até algo bom.

Eu gosto muito de uma série chamada Band of Brothers, sobre a Easy Company da 101st Airborne Division que teve atuação decisiva durante a segunda guerra mundial.

Entre tantas cenas um diálogo eu sempre lembro.

O Capitão Speirs da companhia encontra um soldado numa vala. Escondido. O soldado relata que está com medo e a resposta do capitão é a seguinte:

Todos estamos com medo. Você se escondeu nessa vala porque você ainda tem esperança. Mas Blithe (nome do soldado), a única esperança é aceitar que você já está morto e o quanto antes você aceitar isso mais cedo você começará a agir como um soldado. Sem piedade. Sem compaixão. Todas as guerras dependem disso.

Não precisamos ser tão dramáticos no mundo dos negócios, mas quanto antes você aceitar que não é uma startup e que não precisa ser uma, sem ter medo de não ser uma, mais rápido você agirá da melhor maneira para atrair os melhores talentos e os melhores clientes que não irão se decepcionar com o que você vende e o que você faz.

O mundo já tá cheio de startups, isso é muito bom, mas você provavelmente está diminuindo o que elas significam pra se encaixar na sua versão mais tradicional e corporativa de empresa.

Isso não pode ser bom.

O que é uma startup?

Uma maneira de ver que você não é uma startup é seguindo a definição de startup do Steve Blank:

Uma startup é uma organização formada para encontrar um modelo de negócios replicável e escalável.

Já é um começo pra saber que você não é uma startup.

O próprio Steve Blank ainda define o que é uma empresa que não é uma startup:

Uma empresa é uma organização desenhada para executar um modelo de negócios replicável e escalável.

Olhando essas duas definições fica claro que para ele uma startup está em um momento anterior. O foco na execução acaba não tornando muito difícil que elas tenham inovação contínua e disruptiva.

Uma outra definição de startup vem do Eric Ries, conhecido pelo seu Startup Enxuta (Lean Startup):

Uma startup é uma instituição humana desenhada para criar um novo produto ou serviço em condições de extrema incerteza.

Adicionando isso ao mix da definição de startups (e pode ter certeza que tantas outras devem ter por aí), de duas pessoas muito conceituadas sobre o assunto, fica claro que a fase de busca por um modelo de negócios replicável e escalável do Blank está de acordo com a parta das incertezas do Ries.

Um ambiente de incertezas e busca exige agilidade, velocidade e um sentimento de pertencimento de cada um dos integrantes dessa equipe. Todos precisam ter o poder de tomar algumas decisões.

Sem isso, é bem provável que a parte da agilidade e velocidade se perca.

É comum encontrarmos histórias de como empresas tem um “espírito de startup” ou que elas “funcionam como startups”.

Mas será que isso acontece mesmo?

Você não é uma startup

Pra iniciar essa parte quero tirar algo do meu peito: sua nova empresa não é uma startup só porque é pequena e nova.

Parece que tem essa ânsia por se estar em uma startup. Um pequeno negócio também é legal e dá dinheiro!

Vou usar um exemplo que volta e meio cruza meu caminho: sua agência digital não é uma startup.

Você não tem nenhuma incerteza (só na página do Marketplace da RD Station tem umas 500 agências) e muito menos um negócio escalável. Talvez replicável.

Dentro de empresas de médio e grande porte existe o problema do “agir como startup”.

Nesse sentido o conceito de startup pouco importa, o que mais vale são os clichês: open-office, equipes pequenas (grandes empresas que agrupam um time menor para cuidar de alguma coisa), brindes legais para os funcionários, ping-pong, televisão, jogos eletrônicos e café.

A maioria não vive em um mercado cheio de incertezas (não estou falando aqui de questões macro-econômicas que muitas vezes são intrinsicamente cheias de incertezas) e não tem agilidade devido a sua estrutura e foco na execução de algo que já está funcionando.

Quando uma decisão precisa passar por uma rede de aprovações e burocracias é bem provável que você não esteja em uma startup.

Porque se estivesse, toda a incerteza iria te destruir em pouco tempo.

Se formos falar que na verdade essas empresas estão apenas incorporando uma “cultura de startup”, o que isso significa?

Além desse argumento vir seguido dos clichês citados acima, ele também está ligado a palavra inovação.

Mas a verdade é que são poucas empresas que conseguem ser inovadoras. Muitas vezes nem startups conseguem ser.


Não existe problema nenhum em não ser uma startup ou não ter cultura de uma.

Não precisa se enganar.

Enquanto você se engana você também engana os seus atuais e futuros clientes e os seus atuais e futuros empregados.

Você engana a todos porque eles vão pensar em startups conhecidas para comparar com a sua empresa. Você não entregará isso.

Faça como o Capitão Speirs que aceitou que estava morto para poder executar a sua tarefa sem distrações.

Admita que você não é e não será uma startup e faça o que realmente é importante para executar o seu modelo de negócios.

É nisso que você é bom.