Crescimento e sucesso de startups é sempre algo muito difícil de analisar de fora.
Ainda mais porque a grande maioria não tem obrigação nenhuma de divulgar seus números abertamente.
Nesse meio é comum lermos artigos e vermos apresentações sobre sucesso: é número de usuários absoluto, é algum percentual de crescimento, é um número maior de funcionários, aumento de clientes…
Enfim, olhando de fora parece que está tudo bem. Em consequência disso, muitas vezes tentamos emular o que essas startups estão fazendo sem saber o que realmente se passa dentro delas.
Lembram da tabela com opiniões anônimas sobre como é trabalhar em algumas startups brasileiras? Aquilo foi muito revelador. Podemos debater se todas as opiniões refletem a realidade ou apenas alguém insatisfeito, mas é improvável que não tenha algo de verdadeiro ali.
As vezes startups mudam de nome, mudam a marca, mudam o posicionamento, mudam seu segmento. Outras vezes é revelado que elas só dão prejuízo (mesmo em casos onde são bootstraped e sem investimento de terceiros o que, pra mim, aumenta consideravelmente o risco delas sumirem do mapa). Algumas vezes demitem pessoas da noite pro dia.
Isso, na minha opinião, indica que a realidade é diferente do discurso. Da palestra em algum evento de ponta. Dos textões no LinkedIn.
Em alguns casos as próprias empresas que somem do mapa! Um caso recente e emblemático é a Theranos.
Nesse caso até investidores ficaram cegos e jogaram dinheiro na empresa que nem um produto real possuia. Nada funcionava como dito. Eles conseguiram parceria com uma grande rede de farmácias!
Não era pouca coisa não.
Se pessoas experientes e que vivem de investir em empresas se perdem em meio ao glamour das startups (e muitas vezes tem muito mais informações que nós), porque nossa barreira de senso crítico se perde em muitos os casos?
O dia a dia dos negócios não é fácil. Não é uma terra de fantasia cheia de Unicórnios. Crescer é muito difícil.
Sempre achei complicado estudar cases que não tragam números concretos, comparações que tem um ponto de partida como base (não adianta dizer que cresceu 300% em 1 ano se tinha 3 clientes e foi pra 12). É um número expressivo, mas muito mais fácil do que quando se tem 100 clientes, falando em números percentuais.
Nesse exemplo, não é necessariamente um caso ruim, mas ao olhar e querer comparar com a sua própria realidade, pode passar uma impressão errada.
Acho que em muitos casos as armadilhas que aparecem no livro Como Mentir com Estatística se fazem presentes nessas apresentações e cases.
“…because as we know, there are known knowns; there are things we know we know. We also know there are known unknowns; that is to say we know there are some things we do not know. But there are also unknown unknowns – the ones we don’t know we don’t know…”
Nesse caso das startups a maioria das situações é de known unknowns, ou seja, nós sabemos que não sabemos de muitas informações. Está claro isso, mas mesmo assim agimos como se tudo fosse verdade!
Não vamos ver startups divulgando abertamente que estão ficando sem dinheiro até demonstrar isso com demissões em massa, por exemplo. Soundcloud, alguém lembra?!
Geralmente esses casos pegam todos de surpresa mas nos últimos anos algumas das startups mais conceituadas no mundo passaram por isso. Imaginem a situações nas que estão recém se estabelecendo?
Ontem lendo uma discussão no Quora sobre o Tony Robbins um de seus detratores deu uma opinião que faz sentido: as pessoas que pagam caro para ver uma de suas palestras nunca vão assumir que não adiantou em nada. A pressão social e a própria pressão interna vão influenciar no que elas externam.
No caso das startups, ninguém do meio vai querer dizer que tem algo errado. Ninguém vai questionar com receio de ser excluído. Com receio de parecer alguém que “não entende e não sabe do que está falando”.
Por mais data-driven que a gente diga que é, nossas crenças nos pregam peças.
É sempre bom ter cuidado ao entrar no mundo da fantasia. Nossas percepções podem ter sido moldadas para enxergarmos algo que não é real.