Desde o ano passado tenho acompanhado que há no meio de desenvolvimento e gerenciamento de produto muitas pessoas falando sobre uma mudança do pensamento de projetos para produtos e isso se reflete na questão de Outputs versus Outcomes.

Essa discussão gira em torno de que os times de produto devem entregar valor, ou seja, os Outcomes (resultados) que as pessoas esperam e não entregar apenas a tecnologia e funcionalidades de maneira mais eficiente e veloz.

Aí estaria a diferença entre pensar com uma cabeça de projetos e passar a pensar com uma de produtos.

Ao invés de cair na armadilha de ficar preso a apenas construir e entregar funcionalidades os times deveriam maximizar o valor daquilo que está sendo entregue.

Outro dia vi uma foto de um slide que estava sendo apresentado na Product Camp que dizia o seguinte:

Usuários não querem mais filtros, eles querem melhores resultados.

“Mais filtros” é o Output, é a saída do que foi entregue, é a funcionalidade, é o que aquela coisa lá vai fazer. Já “melhores resultados” é o Outcome, o que a pessoa quer de fato ter como valor.

Comecei a pensar sobre o assunto porque me causou um certo espanto que isso estivesse sendo discutido.

Pelas conversas que estava acompanhando e com esse exemplo no evento, comecei a notar que esse mesmo argumento é usado em Jobs To Be Done ou nas discussões sobre valor e posicionamento em Marketing.

Na minha cabeça fui montando uma ideia de que é algo que está implícito mas que ainda é muito difícil de ser executada pelas empresas e times de produto.

Todo mundo sabe que é preciso entregar valor, mas acho que fica difícil entender o que é esse valor.

Mas porque será?

Comecei a pensar em todos os casos que havia alguma discussão sobre valor. Se pegarmos a definição convencional é uma fórmula bem fácil:

Valor é a diferença entre os benefícios percebidos e os custos percebidos.

O problema é que valor só pode ser definido através do que a pessoa que está decidindo enxerga como tal. Assim como Posicionamento ele acontece na mente das pessoas.

Como é difícil extrair o que as pessoas realmente querem e o que elas enxergam como valor eu diria que é muito mais fácil simplificar o processo e tomar decisões de entregar mais funcionalidades, Output, do que entregar o resultado esperado, Outcome.

A discussão sobre valor dentro do Marketing é bem velha. Não é a toa que empresas de bens de consumo investem tanto em pesquisas de mercado e entendimento dos consumidores.

Elas sabem que precisam ir atrás do que realmente as pessoas querem. O problema que mesmo com esses investimentos muitos produtos fracassam.

O que dizer então de empresas de tecnologia que nascem em um ambiente que, muitas vezes, promove que a velocidade de entregar algo é o mais importante?

Temos que por dentro do contexto que o grande debate entre entregar produto e entregar resultado, entre pensar como projetos e pensar como produtos, ela está acontecendo em um ambiente de empresas de tecnologia.

É nesse mesmo contexto que estamos falando sobre o papel do Gerente de Produto.

Generalizando vamos pegar como nasceram essas empresas:

Uma ideia que foi colocada em prática seguindo princípios como o Lean Startup, onde a velocidade para por algo no mercado, testar, medir, aprender e construir é mais importante para que se falhe rápido e se possa seguir um caminho certo em seguida.

Tem que fazer isso até encontrar o Product-Market Fit.

Vejo que no início apesar de ter uma premissa que coisas serão aprendidas e o produto só crescerá se resolver um problema, o foco está mais na parte das entregas do que dos resultados.

Uma resposta talvez a um período onde se investia muito em pesquisas antes de construir e quando se construía algo tinha chances de estar errado.

Esse formato funciona em times que conseguem realmente aprender enquanto entregam com velocidade.

E não só aprender mas também entender que, por mais que o processo seja o melhor do mundo, existem incertezas e aleatoriedades que influenciam se um produto vai ter sucesso ou não.

Mas chegamos em um ponto onde essa parte da velocidade e das melhores práticas de desenvolvimento de software e produto e a otimização das entregas, Output, já é uma commodity.

Pode ser que nem todos façam bem, mas acho que muito mais times tem feito isso bem do que quando começou esse movimento ágil e lean.

Então começa a concorrência no mercado.

É preciso a diferenciação. Para cada produto de tecnologia existem muitos concorrentes estabelecidos e tantos outros novos prontos para entrar.

Daí enquanto os times de Marketing, Growth, Geração de Demanda, ou seja lá o nome que terão, voltam a falar de Posicionamento, Messaging e construção de marca para se diferenciar, os times de produto e tecnologia começam a refletir que precisam parar de otimizar as entregas e passar a maximizar os resultados esperados pelos seus clientes e usuários.

O engraçado é que lendo o livro User Story Mapping, do Jeff Patton, publicado em 2014, já tinha esse alerta de que todo o processo de desenvolvimento deveria entregar Outcomes.

Com isso acabei notando algo que não havia percebido antes. Esse assunto já existe desde o início da década que começou lá em 2010.

Estamos em 2020.

Mesmo assim, seja dentro de times de produto, seja em times de Marketing, seja no nível gerencial, o discurso sobre entregar e maximizar valor está na boca de todos, mas fazê-lo na prática ainda é complicado de se ver.

A única saída para que essa prática se torne tão comum é investindo pesado na parte de entendimento das pessoas.

Pesquisa. É conversando.

Talvez isso signifique tirar um pouco o pé do acelerador, o que é difícil, mas não tem outra forma.

Assim como fico surpreso quando em eventos de Marketing ainda estão falando sobre “construir experiências”, fico surpreso que é preciso repetir mil vezes que devemos focar nos resultados esperados e não nas entregas em si.

Nunca foi só pela funcionalidade ou pela tarefa explícita. Sempre foi sobre valor.

Sempre.