Foi no ano de 2015 que comecei a me interessar e estudar sobre Product Management. Nesse mesmo ano fui pela segunda vez no RD Summit e resolvi priorizar as palestras que falavam sobre Gerenciamento de Produto.
Esse meu interesse veio devido ao meu trabalho no Route. Durante 2014 eu era novato nesse meio de Startups, empresas de tecnologia e modelo SaaS de produtos digitais. Havia assumido como a pessoa para tocar o Marketing da empresa, sendo a única pessoa que fazia toda e qualquer interação com usuários.
Mas como não tinha muita experiência com desenvolvimento de produto eu foquei na parte que dominava mais: Marketing.
Durante 2014 criei o nosso site, escrevi diversos artigos, criei ebooks, fiz as automações para lead nurturing e preparei o terreno para começarmos a enviar os primeiros convites aos Beta Testers.
Entrei em janeiro e somente em outubro de 2014 as primeiras pessoas foram convidadas. Foi a partir dessa nova realidade de ter um produto rodando com usuários e os desafios que surgiram que acabei me interessando pelas atividades de Product Managers.
Na época não tinha muita referência, ia lendo alguns materiais, as coisas iam acontecendo de forma orgânica. Posso dizer que a comunidade de Growth Hackers foi o primeiro lugar que comecei a ler sobre desafios de produto (ativação, engajamento, retenção, etc), mesmo que o foco não fosse o gerenciamento em si.
O ano foi passando e nosso time foi pro RD Summit e lá teriam algumas sessões sobre Gerenciamento de Produto. Decidi que iria ver as que conseguisse.
Durante o evento eu vi 3 palestras: Diego Pereira (Product Manager da Resultados Digitais), Janna Bastow (co-founder do ProdPad) e Manoel Lemos (Managing Partner da Redpoint eventures).
Não lembro de ter visto outras e essas 3 eu escrevi um relato sobre elas em um post que publiquei na época: Lições do RDSummit 2015.
Reproduzo aqui o que escrevi em 2015:
Diego Pereira
A palestra do Product Manager da Resultados Digitais foi muito legal. O tema foi: Gestão Lean de Produto: Não desenvolva features, resolva problemas!
Achei um tema bem apropriado pela realidade que enfrentamos com o Route. Estamos buscando a melhor maneira de comunicar os benefícios e que problemas resolvemos, muito mais do que falar nas features que temos.
A primeira ideia legal é a abordagem deles para organizar o roadmap do produto listando problemas que eles querem solucionar e não as features que serão desenvolvidas.
O foco deve ser resolver problemas dos clientes e do público que tem o perfil dos clientes ideais.
Para desenvolver o produto também é necessário estabelecer um fluxo organizado das etapas do desenvolvimento, desde a concepção do que será criado até a fase de testes e lançamento.
Nesse processo todo é necessário testar, testar e testar.
Mas não somente testar o software em busca de bugs, mas também o lançamento, as mensagens aos clientes e tudo que seja importante para que os usuários tenham sucesso com o produto desenvolvido.
Lições
- Roadmap com problemas e não features
- Sempre focar em resolver problemas
- Estabelecer um fluxo de des. do produto
- Teste teste teste
Janna Bastow
Eu não conhecia a Janna antes de assistir a sua palestra no RD Summit. Resolvi participar porque o título A ilusão do Product/Market Fit me chamou muito a atenção.
O conceito de Product-Market Fit (PMF) é muito debatido no mundo das startups. A definição completa pode ser encontrada nesse post do Marc Andreessen no LinkedIn (na época coloquei o link para o post mas hoje ele não está mais no ar. Aqui está a definição na Wikipedia).
Mas, basicamente, pode ser definido como:
Product/market fit means being in a good market with a product that can satisfy that market.
Então, se esse é um termo que todas startups buscam, como ele pode ser uma ilusão?
Na verdade, ao longo da palestra ficou claro que o título era quase um clickbait. Não é que seja uma ilusão, mas sim que nem tudo que parece mostrar que a empresa chegou no PMF realmente mostra isso.
Ela começa dizendo que o PMF não é fácil de ser encontrado. Que geralmente exige muito teste, formulação de hipóteses sobre o que o mercado quer e estar sempre atento ao comportamento das pessoas na maneira que elas interagem com o seu produto e com a concorrência.
Ela chama a atenção que atrair muitos beta testers e pessoas que costumam ser early adopters não significa ter encontrado o PMF. O argumento é que esse perfil de pessoa não necessariamente reflete o mercado pela natureza delas de estarem na vanguarda de conhecer e testar novos produtos.
Apesar de ser uma das maneiras de começar a validar a proposta do produto, não é conclusivo que atingiu o PMF.
Outro cuidado é achar que após conquistar os primeiros clientes a empresa já encontrou o PMF. Segundo Janna, ter 10 clientes não significa ter encontrado, talvez ter 1000 signifique isso.
A ideia é que os 10 primeiros clientes não são tão difíceis de conseguir quanto os primeiros 100 e os primeiros 1000. Os primeiros se consegue explorando as conexões pessoais dos foundersem muitos os casos, o resto vem somente quando o produto se estabelece no mercado.
A lição que a Janna quis passar é que pra encontrar o PMF é preciso muito trabalho, muita análise e muito teste. Aliás, testar foi o tema de muitas palestras.
Devemos lembrar que nossa visão e nossas crenças sobre o nosso negócio não significa que reflete nosso mercado. O ideal é formular hipóteses sobre esse mercado e testar o máximo que der para achar as respostas.
Uma das maneiras de ir em busca por essas respostas é utilizar o Survey.io. Ela acredita que para encontrar o PMF essa pesquisa é melhor do que o NPS (Net Promoter Score).
O Survey.io é uma plataforma de pesquisa elaborada por Sean Ellis da Qualaroo e o cara que criou o termo Growth Hacker.
O que fica da palestra da Janna Bastow é que, na verdade, o PMF não é uma ilusão. Ele só não vem fácil como muitos acreditam.
Lições:
- Product Market Fit não é fácil de encontrar;
- Ter muitos betas e muitos Testers não mostra PMF;
- 10 clientes não é PMF. Algo como 1000 clientes pode ser
- Nós não somos nosso mercado;
- Teste teste teste;
- Survey.io no lugar do NPS.
Manoel Lemos
A palestra do Manoel Lemos foi a segunda que eu vi focada em produto. O tema foi: Melhores práticas de Product Management.
Como meu conhecimento sobre a gestão de produtos é básico e estou estudando sobre o assunto pra poder tomar melhores decisões no meu trabalho, resolvi assistir.
Ao longo da sua conversa ele explicou as diferenças que ele vê entre um Product Manager (profissional com um olhar mais para fora da empresa) e um Product Owner (profissional com um olhar mais para o produto) e quais as qualificações e objetivos que um Gerente de Produto deve ter e focar.
Mas o insight mais relevante veio ao fim quando foram abertas as perguntas ao público. Um dos participantes explicou como funcionava o gerenciamento de produto na startup que ele trabalhava e como o Product Owner fazia as vezes do Product Manager.
Que eles tinham um processo de medir o uso do produto, analisar o que os usuários falavam que necessitavam e a partir desses dados focar no que deveria ser desenvolvido.
O foco deles de análise do mercado era muito focado nos dados dos usuários. Não tinha ninguém com uma visão mais macro, que seria o papel do Product Manager.
Para esse cenário o Manoel argumentou que desenvolver features apenas em métricas de pedidos dos usuários ignora todo o contexto todo. Não leva em conta movimentos no mercado que podem ir muito além dos que os usuários estão pedindo.
Ignora o fato de que a inovação vem de explorar lugares que ainda estão para serem descobertos, lugares esses que ficariam escondidos só se baseando em pedidos de usuários.
Isso faz muito sentido. A literatura de comportamento do consumidor, seja ela tradicional, seja ela explorando conceitos como neuromarketing e economia comportamental, já trata faz tempo sobre o perigo de perguntar o que as pessoas querem.
Geralmente não temos a mínima ideia do que queremos.
Tudo o que foi conversado nessa palestra e na do Diego Gomes sobre produto, me fez refletir sobre como são os processos no Route.
Lições
- Product Manager mais olhando pra fora da empresa
- Product Owner olhando pra dentro
- Desenvolver features apenas em métricas de pedidos dos usuários é perigoso
O ano era 2015… agora é 2019
Sintetizando os 3 assuntos macro temos: não pensar em features mas sim em resolver problemas, a importância de validar product-market fit e os desafios para encontrá-lo e os diferentes papéis de um time de produto e como assimilar o feedback dos usuários para priorização e desenvolvimento de novas funcionalidades.
Posso dizer que ainda hoje isso tudo continua sendo desafios relevantes em times de produto. Leio sobre esses temas regularmente e vejo muita gente passando por problemas relacionados a esses tópicos.
É bem provável que se as mesmas pessoas falassem hoje sobre os temas tratados lá em 2015 no RD Summit, ainda seria de extremo valor por ser um assunto ainda atual.
Isso me leva a pensar algo que eu já havia percebido: a atividade de Gerenciamento de Produto em empresas de tecnologia no Brasil ainda está dando seus primeiros passos, mesmo tendo crescido em importância e em grandes profissionais nos últimos anos.
Talvez como um todo, essa área em empresas de tecnologia (estou destacando a área porque a figura do Gerente de Produto existe em diversas indústrias mesmo antes de toda essa explosão de startups, SaaS, produtos digitais, etc) tenha o papel do PM dentro daquela curva do Crossing the Chasm:
Pode ser que nesses anos que se passaram, estejamos saindo da fase de Early Adopters e tentando entrar na Early Majority de empresas que resolvem adotar em seu time, ou até mesmo re-estruturar seus times, para ter o papel do Product Manager e dar a devida importância a ele.
Com novos entrantes no mercado e com novas empresas adotando PMs em seus times os desafios vão sendo muito parecidos. Parece que os tratados em 2015 no RD Summit sejam desafios que times em fase inicial de maturidade no desenvolvimento de produto enfrentam. Mas isso é uma opinião apenas.
Enfim, foi muito legal ter relido o que escrevi sobre essas palestras porque não lembrava dos assuntos. Só tinha a lembrança de ter escolhido palestras sobre produto para aprender algo novo naquele momento.
Outra coisa interessante é que eu acompanhava a Janna Bastow nas redes, conhecia o produto dela, mas nem lembrava que tinha visto uma palestra dela alguma vez. Na época não a conhecia.
O post original chamado Lições do RDSummit 2015 eu publiquei em uma outra versão do meu blog, antes de trocar de plataforma. Hoje ele está no Medium.
Nele falo de outras palestras que vi, incluindo Sujan Patel, Lincoln Murphy e Max Altschuler.
Caso queria ler, basta acessar Lições do RDSummit 2015.
Esse artigo eu publiquei pela primeira vez no dia 4 de novembro de 2015 em uma versão antiga do meu blog. Depois ele foi para minha conta pessoal no Medium e agora volta pra dentro do meu próprio domínio.